Diferenças entre homens e mulheres nos transtornos mentais: o que a ciência já sabe
- Priscila Franco Perez

- 2 de set.
- 2 min de leitura

Quando falamos em saúde mental, é importante reconhecer que homens e mulheres não são afetados da mesma forma pelos transtornos psiquiátricos. Diversos estudos científicos vêm mostrando que existem diferenças tanto na prevalência dos transtornos, quanto em fatores de risco, proteção e resposta ao tratamento.
Um dos trabalhos mais amplos sobre esse tema é a revisão de 257 meta-análises publicada em Psychological Bulletin, que avaliou as diferenças entre os sexos em praticamente todos os transtornos mentais. Os resultados reforçam achados importantes:
As mulheres apresentam maior prevalência de transtornos ansiosos e depressivos;
Os homens apresentam mais frequentemente transtornos relacionados ao uso de substâncias e transtornos de conduta;
Há diferenças também em como homens e mulheres respondem a tratamentos, tanto psicoterápicos quanto farmacológicos.
Esses achados dialogam com outra revisão importante, publicada na revista Neuron (Sex Differences in Brain Disorders), que mostra que as diferenças não se limitam ao comportamento ou ao ambiente, mas também têm relação com a neurobiologia. Em outras palavras, fatores como hormônios, genética, desenvolvimento cerebral e influências ambientais interagem de forma diferente em homens e mulheres, moldando a vulnerabilidade e a evolução dos transtornos mentais.
E quanto às mulheres trans? Há diferenças?
Um ponto relevante para a prática clínica é considerar que até mesmo mulheres trans apresentam prevalência maior de transtornos alimentares, em comparação com homens cis e até mesmo com outras mulheres cis. Isso ocorre porque:
A pressão social e cultural sobre corpo e aparência, que já é intensa para mulheres, é ainda maior para mulheres trans, podendo se somar a vivências de preconceito e discriminação;
Questões ligadas ao processo de afirmação de gênero (como terapia hormonal, busca por cirurgias ou modificações corporais) podem amplificar a relação com a imagem corporal.
O que isso significa na prática clínica?
Para nós, profissionais de saúde mental, esses achados reforçam a importância de:
Individualizar o tratamento, levando em conta não só o diagnóstico, mas também sexo, gênero, contexto social e história de vida;
Reconhecer que mulheres e homens podem apresentar sintomas diferentes, inclusive para o mesmo transtorno;
Estar atento à interseção entre saúde mental e identidade de gênero, sobretudo em populações mais vulneráveis.


