Transtorno do luto prolongado: quando o luto natural se transforma em sofrimento persistente
- Priscila Franco Perez

- 15 de abr.
- 3 min de leitura

Perder alguém significativo costuma ser uma das experiências mais dolorosas da vida para a maioria das pessoas. O luto é a reação emocional natural a essa perda, e pode vir acompanhado de tristeza intensa, saudade, alterações no sono, apetite, concentração e até momentos de desorganização emocional.
Esses sentimentos fazem parte de um processo que, em geral, se transforma com o tempo. O luto não tem “cura”, mas costuma encontrar um lugar mais tranquilo na vida da pessoa — que, aos poucos, volta a se envolver com a realidade e a construir novos significados.
No entanto, em alguns casos, o luto não evolui de forma esperada. O sofrimento se mantém intenso por um período prolongado e compromete significativamente a capacidade de a pessoa retomar a vida.
É nesse contexto que a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) reconhece o diagnóstico de Transtorno do Luto Prolongado.
O que é o Transtorno do Luto Prolongado ?
O Transtorno do Luto Prolongado é caracterizado por uma reação persistente de saudade intensa ou sofrimento emocional em relação à pessoa que faleceu, acompanhada por dificuldade de aceitar a perda, sensação de vazio, dificuldade de reinvestir na vida e sofrimento significativo.
Esses sintomas devem estar presentes por pelo menos 6 meses após a perda (ou 12 meses, no caso de crianças) e causar prejuízo importante no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas da vida.
O diagnóstico só é feito quando os sintomas ultrapassam o que seria esperado para o contexto cultural da pessoa — ou seja, leva-se em conta que o luto é uma experiência subjetiva, influenciada por crenças, rituais e tempo de cada sociedade.
Como diferenciar o luto prolongado da depressão?
Embora o transtorno do luto prolongado e a depressão compartilhem alguns sintomas — como tristeza intensa, dificuldade de dormir ou de se concentrar — são condições diferentes e com nuances importantes.
No luto prolongado, o foco principal do sofrimento costuma ser a perda daquela pessoa específica, com uma saudade intensa e persistente, e uma dificuldade em seguir com a vida. Já na depressão, o humor deprimido é mais generalizado, muitas vezes acompanhado por uma visão negativa de si mesmo, desesperança em relação ao futuro e desinteresse por quase tudo, sem necessariamente estar ligado a uma perda concreta.
Além disso, no luto prolongado, mesmo com o sofrimento, geralmente a autoestima permanece preservada — enquanto na depressão ela pode estar bastante abalada.
É importante lembrar que essas condições podem coexistir e que o sofrimento emocional não precisa ser rotulado para ser acolhido.
Quando procurar ajuda?
É importante buscar avaliação profissional quando:
O sofrimento não diminui com o tempo
Há prejuízo na vida social, profissional ou familiar
Há pensamentos persistentes de morte ou desejo de morrer
A pessoa sente que está "presa no passado" e não consegue se reconectar com a vida
Há isolamento social ou desinteresse duradouro por tudo que antes fazia sentido
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, nem de que o luto precisa ser “patologizado”.
Significa reconhecer que o sofrimento humano, em alguns casos, ultrapassa a capacidade de elaboração espontânea — e merece ser cuidado com responsabilidade.
Luto é amor em movimento. E o amor também pode precisar de acolhimento especializado.
Se você ou alguém próximo está vivendo um processo de perda que parece não cicatrizar, considere conversar com um profissional de saúde mental. Há caminhos possíveis — e ninguém precisa atravessar isso sozinho.


